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Foto do escritorMarcelo Saldanha

AMAMENTAÇÃO - parte I


Um dos assuntos campeões em dúvidas das mamães é sobre a amamentação, hoje vamos tratar de algumas questões importantes:

Com o avanço da indústria do leite artificial, por algum tempo, deixou-se de lado o aleitamento materno para adotar leites artificiais, mamar no peito foi considerado brega e de gente que não tinha como comprar leite, era moda e representava status social dar leite de latinha, a redução da amamentação, infelizmente, teve uma enorme repercussão na mortalidade infantil, principalmente nos países subdesenvolvidos, como o nosso. As autoridades nacionais e internacionais perceberam essa mudança na mortalidade e resolveram atuar, incentivando novamente o aleitamento materno, através de inúmeras medidas. Observamos nas últimas décadas uma retomada do aleitamento materno, e, conseqüentemente uma redução na mortalidade infantil. Resumidamente podemos dizer:


O LEITE MATERNO REDUZ SIGNIFICATIVAMENTE A CHANCE DE O BEBÊ DESENVOLVER DOENÇA GRAVE OU ATÉ MESMO MORRER.


Ainda nos dias de hoje, podemos observar resquícios dos efeitos das campanhas contra o aleitamento materno, que foram utilizadas pela indústria do leite, nas décadas passadas, e que ainda interfere no sucesso do aleitamento materno. Ainda podemos ouvir como verdades absolutas, expressões como: “leite fraco”, “ leite que não alimenta”, “matando de fome o bebê”, “ leite aguado”, “mamas pequenas que não produzem leite” entre outras bobagens.

Mamar no peito, felizmente, retornou à moda, as mamães estão cada vez mais informadas e empoderadas, mas ainda enfrentam grandes obstáculos e dificuldades, que precisam ser superadas para o sucesso do aleitamento materno. Não tenha vergonha de perguntar, pesquisar, pois quanto mais informação de qualidade obtiver mais chance de sucesso vai ter. Com uma simples pesquisa na internet, abrem-se muitos tipos de informação, desde o espaço de comércio até informações erradas, passando por informações aterrorizantes e calamitosas, sendo que espaços sérios e resolutivos, por vezes, são difíceis de achar.

Por isso, vamos começar a entender o universo da amamentação:


1 - Mamar no peito é uma interação entre pessoas:

Então você precisa aprender a se conhecer, a conhecer seu bebê e a interagir com ele, essa interação, por mais que aconteça naturalmente, não é instantânea, leva algum tempo, e esse tempo é individual, como qualquer relação entre duas pessoas, isso acontecerá naturalmente. Também é importante ressaltar, que não existe nenhuma fórmula pronta, nenhuma receita de bolo que, ao colocar as quantias adequadas dos determinados ingredientes, e seguindo o modo de fazer, chegaremos ao resultado desejado. Existem muitas formas certas de se chegar ao resultado adequado. No seu dia a dia, serão necessárias várias adaptações que você necessitará fazer, pois a diversidade entre as pessoas é enorme, coisas que funcionava para o seu filho mais velho talvez não funcione para o mais novo. Importante é você estar segura que, essas adaptações, não atrapalhem o aleitamento materno, pois existem pequenas armadilhas que surgem e que ano início parecem bobas, mas se tornam sérias com o passar do tempo, por isso é importante a orientação de profissionais experientes e disponíveis para lhe ajudar, no caso, eu. Risos. Mas também não tenha medo nem vergonha de pedir auxílio, conversando com outras mamães tanto pessoalmente quanto na internet.


2- Um aspecto importante e que deve ser levado em conta é a ambientação do bebê recém-nascido.

Eu explico: Dentro do útero, o bebê estava em um ambiente muito diferente do ambiente em que vivemos, ele estava no escurinho, apertadinho, quentinho, envolto de líquido, não respirava, não sentia fome e não recebia alimentação pela boca, e o principal: estava em contato muito próximo de sua mãe, ou seja, ele estava se sentindo totalmente seguro e protegido. Com o nascimento, tudo mudou, agora ele está no nosso mundo, que é muito diferente do mundo do bebê dentro do útero. Todos os bebês estranham, uns mais outros menos, levando algum tempo para se acostumar. É como se eu pegasse você, mamãe, e a colocasse na lua, certamente você estranharia.


Então o que os bebês fazem? Choram.

Pois é, isso mesmo, o choro é uma das formas dele se comunicar com o mundo (ele não chorava no seu útero), é a forma dele dizer o quanto ele está estranhando o nosso mundo e o quanto ele quer voltar para o mundinho dele. Portanto os bebês recém-nascidos, nos primeiros dias de vida, choram bastante, o que não é motivo para você se angustiar, pois eles normalmente não estão com fome ou dor. Temos a cultura de achar que o choro do bebê, nos primeiros dias de vida, é problema, isso normalmente atrapalha bastante a amamentação, pois, qual é o raciocínio que se faz? Fome. E qual o próximo passo? Coloca-se no peito, mas como ainda nos primeiros dias não tem leite em abundância, o bebê ainda não está muito esperto e a mamãe não está muito craque (essa interação que eu falei antes não está plena), o bebê segue chorando. Aí começam a brotar as incertezas e as inseguranças, onde não vai faltar alguém para sugerir o leite artificial, e, infelizmente, até as maternidades estimulam essa prática. Esse é um erro corriqueiro na grande maioria das maternidades, e, mesmo nos primeiros dias de vida na sua casa, essa impressão de fome vai aparecer, pois é comum o bebê estar chorando bastante, receber leite artificial e dormir após. Neste caso não vai faltar alguém para lhe dizer: “viu, seu bebê estava com fome, tomou mamadeira e dormiu” ou pior ainda “você está matando o seu filho de fome”.

Agora eu imagino você, que já está bastante insegura, com dúvidas se o seu bebê está bem, chorando bastante, recebe uma mamadeira e dorme, não vai conseguir reagir as essas possíveis evidências de que seu bebê estava com fome, mas eu explico: Os bebês nos primeiros dias de vida, por motivos que já falei antes, choram bastante, na grande maioria das vezes não é fome nem dor, se ofertarmos leite artificial e enchermos o estômago dele de leite, vai desencadear sono pelo fato do estômago estar cheio, são mecanismos fisiológicos, conseqüentemente deve dormir, ficando uma falsa sensação de que era fome, ou seja, dormiu por que “encheu a barriga”. Pensa comigo, você vai na churrascaria almoçar, e come bastante, o que normalmente acontece? Isso. Sono à tarde. O mesmo mecanismo que aconteceu com o bebê. Não caia nessa armadilha. Empodere-se e combata isso, talvez o bebê acorde os vizinhos, mas o resultado final vai ser satisfatório.


3- Mudanças hormonais e emocionais:

Com todas as mudanças hormonais que acontece no seu corpo, é muito normal que aconteçam alterações emocionais, que normalmente são transitórias. O melhor remédio para isso é ter uma boa conversa com os seus familiares, onde a informação, o carinho, o amor, a paciência e o apoio são as melhores táticas para enfrentar essa fase. Lembre-se, vai passar.


4- O bebê nasce preparado

Tanto quanto o seu organismo se prepara para o nascimento, o organismo do bebê também se prepara para o nascimento: Isso mesmo. Principalmente no último mês de gestação, o bebê engorda bastante, produzindo uma quantidade boa de gordura, pois ele “sabe” que na primeira semana de vida não vai receber muita nutrição, então ele desenvolve uma reserva de gordura para poder ser usado nesse período, mais um motivo para você não se preocupar, pois ele está muito mais preparado do que você imagina. Então não se preocupe, se o leite está demorando em “descer”, se o bebê chora bastante, não vai acontecer nada de grave com ele. Explique isso para aquela visita inconveniente que insiste com você em dar o complemento.


5 - Seu bebê não precisa de bicos, chupetas ou mamadeiras.

Seu bebê precisa mesmo é do seu leite materno. Sabemos que, nas primeiras semanas de vida, existe um maior perigo em o bebê se desvincular do seu seio. Usando bicos e mamadeiras vamos, de certa forma, confundir o bebê, pois dificilmente o mamilo do seu seio vai estar totalmente pronto para a sucção , o seu seio vai se modificando, isso é normal, já os bicos artificiais já estão no formato prontos para a sucção, e acredite: os bebês são espertos, se adaptam com o que é mais fácil, relutando em sugar o seio. Também não recomendo adaptadores de silicone para o bebê sugar no seio, pelo mesmo motivo de desvinculação do seio, devendo-se usar em situações apenas emergenciais (por pouco tempo, se o mamilo estiver machucado e a dor for insuportável). Então, controle o ímpeto da vovó em dar o famoso biquinho.


6- Ingestão de água:

É uma das principais medidas empregadas para o sucesso da amamentação, a produção de leite depende da quantia de água que é ingerida. Recomendamos uma ingestão mínima de três litros de água por dia, podendo ser até mais, principalmente nos clima quentes. Sempre orientamos em deixar o recipiente de água num local bem visível para que, ao ser avistado, a água seja ingerida, pois na correria do dia, por vezes, esquecemos de tomar água. O parâmetro melhor para avaliação da quantidade de água que estamos tomando é a freqüência e a cor da urina, quanto mais vezes por dia urinamos e quanto mais incolor estiver a urina, maior é a quantidade de água que tomamos. Não recomendamos o uso de outros líquidos ou de chás, pois não sabemos os efeitos sobre o bebê, acostume a tomar água mesmo. Não acredite naquela vizinha que ouviu dizer que tomando bastante leite produz leite. Tome água.


7- Como o bebê deve sugar ao seio:

Sugar ao seio é uma das coisas mais importantes para todo o processo de formação do leite. O ato de sugar no mamilo desencadeia a produção de hormônios que vão comandar a produção de leite, portanto é muito importante que o bebê logo ao nascer já comece a sugar o seio para que todo esse mecanismo comece a atuar, mas é importante sugar de forma adequada (chamamos de pega).


8- Com que frequência o bebê deve sugar ao seio?

Deve ser em livre demanda, ou seja, a hora que o bebê solicitar, mas é importante que você não o acostume que a qualquer resmungo ou choradinha deva receber o peito, dessa forma não o ensinaremos que a toda hora ele deva receber o peito, evitando o hábito dos “sugadores intermináveis”.


Qual é a meta então?

Que o bebê pegue o peito mais para se alimentar e menos para se tranqüilizar.


E se o bebê demora em pegar o peito?

Sabemos que nos primeiros dias de vida, muitos bebês são menos vorazes e tendem a pegar o peito com menos vontade, se isso acontecer, oferte o seio a cada duas ou três horas, tente acordá-lo, estimulando-o. Com o passar dos dias deve aumentar o seu interesse pelo seio. Tente ofertar ambos os seios em cada mamada, sendo que você deve começar pelo seio que terminou na última mamada, isso se deve, porque no primeiro seio normalmente o bebê mama 70% da quantidade que precisa e no segundo seio 30%, se você iniciar sempre pelo mesmo seio, existe uma tendência em um seio produzir mais que o outro e por conseqüência o bebê relutar em sugar o que produz menos. Alguns bebês se satisfazem com apenas um seio por mamada, tranqüilo, na próxima mamada oferte o outro seio, importante que o bebê esgote o seio, ou seja, mame praticamente a quantidade de leite das mamas.


Qual o tempo certo de mamada?

Não existe um tempo certo específico, pois depende muito das características de cada criança, mas recomendamos que uma boa mamada não deva durar mais do que trinta minutos em cada seio, mas as vezes esse período pode ser mais longo em algumas crianças ou em algumas mamadas do dia, o importante nem é muito o tempo, mas a qualidade da mamada, pois alguns bebês levam mais tempo. Alguns bebês costumam dormir ao mamar, despertando ao tentar tirar do seio, o que acaba tornando a mamada muito prolongada e cansativa para as mães, recomendamos estimular o bebê para que efetivamente sugue mais e durma menos ao seio, e com isso mame mais e, com o passar do tempo, demore mais tempo, de forma saudável, entre as mamadas.


9- Pronto mamou, como eu faço para arrotar:

Os bebês que mamam bem arrotam pouco. Isso mesmo, parece estranho, né? Mas é assim mesmo, apesar de sempre ouvirmos que os bebês precisam arrotar, isso não é uma obrigatoriedade, pois quando mamam bem, deglutem pouco ar e por conseqüência arrotam menos. Então, depois de uma mamada, coloque o bebê naquela posição tradicional para arrotar, com os velhos e bons tapinhas nas costas, faça isso por poucos minutinhos, se arrotou, beleza, se não, relaxe, bote o bebê no berço e vá para a vida.


10- Alimentação da mamãe que amamenta:

Entramos num assunto onde gera uma série de dúvidas e desinformações, onde sempre tem alguém para dar palpites, por vezes, chega a ser engraçado as dicas que as mamães recebem, e, infelizmente, algumas acabam se submetendo a essas dicas erradas, prejudicando a sua saúde. É importante ressaltar que o organismo da mamãe sempre vai priorizar a alimentação do seu bebê, sabe-se que mães não bem nutridas, emagrecidas produzem leite de qualidade suficiente para o bebê, é a famosa lei da natureza de preservação da espécie, onde se tira da mãe para dar ao bebê. Aonde eu quero chegar com isso: Que você mamãe precisa se alimentar bem, para você mesmo, pois seu bebê vai ficar bem, mas você precisa se lembrar que teve uma gestação, um parto e terá uma amamentação e cuidados do bebê pela frente, então vai precisar de alimentação saudável e adequada para não ficar doente. Recomendamos uma dieta mais saudável e natural possível, nenhum alimento saudável deve ser evitado. Evite excessos alimentares, álcool e cafeína. Agradeça aquele convite da feijoada gordurosa.


11 – Nem tudo é alegria.

É verdade que, inevitavelmente, seus seios vão sofrer um pouco, vai aí a minha torcida para que seja bem pouco, pois algumas mães sofrem muito nos primeiros dias da amamentação, motivo, às vezes, de desmame completo. Importante que você entenda algumas coisas: Por mais que você possa preparar os seus mamilos, antes do bebê nascer, dificilmente, conseguirá simular a ação da sucção do bebê no seu seio, portanto, ele não está preparado totalmente para esse grande desafio. Não se desespere, pode me mandar longe se estiver amamentando agora e está vendo estrelas quando seu bebê pega o seio.


Por que isso acontece?

O tipo de tecido do seu mamilo (o conjunto células), não é próprio para suportar esse tipo de estímulo, (o sugar do bebê é um grande estímulo), esse estímulo faz com que essas células entrem em sofrimento (por isso a dor), e sejam trocadas por outras mais resistentes, que suportem melhor o bebê sugar.


Então o meu mamilo muda?

Sim muda, e só muda com o bebê sugando, sendo que, inevitavelmente, vai acontecer algum nível de dor e sofrimento, para que as células do mamilo sejam trocadas por outras mais resistentes. Importante: Essas células só serão substituídas se o estímulo for contínuo, ou seja, não for interrompida a amamentação, sendo um erro comum em suspender o peito, quando estiver doendo, estancando o processo de substituição das células e o processo começa todo, novamente do zero, aumentando o tempo de dor e sofrimento.

Bom, é muito fácil eu falar que não é para suspender o peito, verdade, pois a dor é muito individual, e só você sabe da sua própria dor. Por isso, na próxima semana vamos continuar a tratar desse assunto e vou lhe dar algumas dicas de como enfrentar melhor essa situação, trazendo os temas:


· Pega do bebê

· Peitos empedrados

· Ordenhas

· Fissuras

· Mastites

· Estoque de leite


Grande abraço e até terça que vem!

Dr. Marcelo Saldanha Pediatra

CREMERS 21004



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